
CENA DE FAVELA
Texto de Aluísio Cavalcante Jr.
I
Ante a luz de pálida vela,
Na favela,
Uma criança chora.
E perante a noite meiga,
Cada lágrima é uma queixa.
Cada soluço, uma mágoa.
Por entre as paredes de barro,
Do barraco,
Um canto ouve-se agora.
É a mãe da criança que canta,
Com uma voz tão meiga e branda,
Que o filhinho aflito acalma.
“- Meu filhinho dorme... dorme...
Não chore assim, não... não.
Enxugue teu rosto lindo,
Filhinho do coração.
Nosso dinheiro acabou-se.
Findou-se também o pão.
Teu pai, coitado... coitado...
Do trabalho não chegou.
Coitado trabalha muito,
Mas pouco lhe dão valor.
Ontem te vendo magrinho
De tristeza até chorou.
Eu também saí cedinho
Com minha velha sacola.
Andei por muitos lugares.
Bati de porta em porta.
“- Perdoa”, todos disseram
Todos negaram a esmola.
Por isso não chore filho.
Não chore assim, não... não...
Enxugue teu rosto lindo,
Meu filho do coração.
Nosso dinheiro acabou-se,
Findou-se também o pão”.
Com os olhinhos cheios d’água
E de mágoa,
A mãe parou de cantar.
Depois de orar complacente,
Saiu do quarto mansamente,
Para o filho não acordar.
II
Ante a luz de pálida vela,
Na favela,
Uma criança dorme.
E perante a noite branda,
Segue sonhando a criança,
Que dormiu sentindo fome.
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A HISTÓRIA DO TEXTO
Este texto nasceu com o objetivo de nos lembrar,
que por trás de um Brasil tão rico, existe um Brasil tão pobre.
Enquanto houver uma pessoa com fome,
nossa missão no mundo estará incompleta.
Nossa felicidade também.